Caos e desinformação

Você já teve a impressão de que em meio a tanta notícia chega uma hora em que não é possível mais ficar atualizado. São tantas informações, dados, fatos, tudo ao mesmo tempo na mídia: jornais, revistas, televisão, internet... sem contar aquilo que um amigo te conta ou o que você houve na hora do jantar, no escritório, no ônibus, enfim, muita informação que tentamos digerir e processar para compreender o que acontece a nossa volta.

Só que temos um limite. Primeiro porque não vivemos apenas para captar informações. Temos que trabalhar, estudar, cuidar da casa, ir ao banheiro e fazer várias outras coisas. Mas será que sobra tempo para ficar atualizado? Naturalmente que ficar atualizado sobre todos os assuntos parece impossível. Então vamos pensar se é viável ficar atualizado no que está acontecendo na política brasileira. Melhor, vamos nos concentrar sobre o que acontece em Brasília. Mas ainda é bastante coisa para a nossa vida corrida e sem tempos para privilégios desse tipo. Então que tal apenas saber o que acontece no congresso. Mas perai. Entre deputados e senadores tem muita gente. Não sei se são quatrocentos, quinhentos indivíduos que estão lá discursando na tribuna, dando entrevistas, falando no celular (isso eles sempre estão fazendo quando os vejo na tv), votando, entre tantas outras coisas que eles deveriam fazer.

Será possível acompanhar tudo o que acontece de importante no congresso? A princípio parece, afinal existem pelo menos dois canais de televisão dedicados à cobertura, um do senado e outro do congresso em tempo integral. Isso sem contar os inúmeros repórteres de canais de televisão, rádios, sites, jornais e revistas. Ok. Então podemos saber o que acontece nas CPIs e nos plenários. Muito bom. Porém, é muita informação. Se ficássemos o dia inteiro acompanhando o andamento disso tudo teríamos uma visão mais completa dessa engrenagem podre, só que quem tem tempo para isso, além daqueles que não estão trabalhando e dos jornalistas políticos? Aliás, alguém sabe o que é discutido nos gabinetes de deputados e senadores? E na sala do café do congresso...? Eu sempre quis saber. Tenho curiosidade para ver como é a conversa daqueles empresários que vão atrás dos políticos pedindo para aprovar um lei, fazer vista grossa em algum tipo de fiscalização, esse tipo de coisa. E fico imaginando a contra-partida: quanto dinheiro não é entregue na mão de nossos políticos em recompensa a esses favores prestados.

Sim, hoje temos alguma idéia de quanto dinheiro circula nesse tipo de negociata, basta ver o que as CPIs estão apurando. Só que isso parece ser apenas a ponta do iceberg. Alguém terá idéia do montante total de dinheiro que circula nas mãos dos políticos no que se refere às campanhas, aprovações de projetos e leis, licitações em geral?

O interessante é também a cara de pau desses canalhas que têm usado a mesma resposta padrão quando são pegos com dinheiro de origem altamente duvidosa: caixa 2. É possível acreditar que toda essa grana fraudulenta que políticos de diversos partidos comprovadamente receberam foi repassada integralmente para suas legendas? Eles realmente têm certeza que o povo é burro e ingênuo, senão não fariam isso. E tem certeza da impunidade também, senão fugiriam do país para não serem condenados pela justiça. E falando em justiça, melhor não falar nada. Isso é um assunto lastimável para ser tratado com mais tempo.

Para encerrar: começo a acreditar que esse mar de noticias e investigações além de um lado positivo, aquele de mostrar a verdade aos cidadãos deste país, tem uma faceta cruel, capaz de esconder tanta maracutaia que fica perdida nesse caos de informação, simplesmente porque não temos mais capacidade de assimilar, investigar e ir atrás de todos os políticos-criminosos que assaltam nosso país diariamente. Pois é caro leitor, pode ter certeza que enquanto você lê este post, alguma negociata está sendo armada e estão metendo a mão no teu e no meu dinheiro. O pior é que bem provavelmente, o assunto não se tornará público, ninguém irá ser punido e continuarão roubando sistematicamente.